Navegando pela literatura
Robert Walser nasceu na Suíça e escreveu em alemão. Foi uma figura misteriosa. Era obcecado por reduções e encurtamentos, uma espécie de micromania, uma atração pela pequeneza que tendia ao desaparecimento. O que o torna sedutor em tempos de vontade de aparecer e de mania de grandeza. Num texto intitulado Solicitação de emprego, Walser registrou: “Sou, para dizê-lo francamente, […] uma pessoa para a qual tudo o que é pequeno e modesto parece belo e adorável, e terrível e pavoroso tudo quanto é grande e assaz desafiador.” Walser é a antítese da civilização narcisista, vazia e desesperada para aparecer, que se expressa na mania de escrever livros (grafomania), na presença ostensiva em redes sociais, nas selfies fazendo biquinho com os lábios, nos corpos rasurados por tatuagens, nos automóveis com alto-falantes potentes reproduzindo música horrível. Walser assustava-se com a ideia de ter sucesso na vida. “Eu literalmente desapareço sob essa massa de muitos” – registrou no conto A história de Helbling e praticou no dia a dia. Quando comentavam que seus escritos haviam sido elogiados nos jornais ou no rádio, Walser respondia “isso não me interessa!” Moral da história. Se a boiada vai para um lado, melhor seguir na direção oposta. Se a ordem é aparecer, melhor desaparecer. Se todos querem ser reconhecidos, melhor ser esquecido. O romancista Enrique Vila-Matas definiu Robert Walser como um pioneiro na arte de desaparecer: permaneceu em sanatórios por vontade própria, fugiu da fama, escreveu com letras pequenas, ilegíveis e dispersas em folhas soltas. No romance de Vila-Matas sobre escritores que abandonaram a escrita, intitulado Bartleby e companhia, Walser é presença marcante. Na vida real, o escritor suíço desapareceu em empregos provisórios, voluntariamente em sanatórios, entre palavras pequenas e ilegíveis perdidas em folhas soltas. No limite, abandonou a escrita. Para ler o texto de Jan Cenek clique aqui
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