domingo, 18 de julho de 2021

"Silêncio" - José Paulo Pinto Lobo


 



Silêncio

 



Na plácida madrugada


Tento escutar meus finados


Silenciosos estão todos


Por motivo desconhecido



 

Esconjuro seus mutismos


Para ouvir ensinamentos


Em absoluto silêncio


Persistem respondendo



 

Uma imagem vale mais


Que mil palavras proferidas


Mas o incómodo silêncio


Intima vinte mil filigranadas



 

As palavras são pesadas


Não raro imponderadas


Enfim se pronunciaram


Os espíritos emudecidos



 

Acabei então percebendo


Que no profundo silêncio


As palavras se aquietam


E frui livre o pensamento



 

Sobrevoando desertas terras


Escutando o fragor das batalhas


As tristes mortes sem sentido


Das gentes de grito desacudido



 

Do fundo das suas campas


Nos fitam mudos e quedos


Tantos mortos inocentes


Inquirindo inconformados



 

Porque nos silenciamos


Incontáveis vezes


Ante injustiça e crueldade?


Corrupção e perversidade?



 

Nos quedando imóveis


Em nosso conforto


Perscrutando apenas


O som do silêncio



 

José Paulo Pinto Lobo



 

Cascais, 17 de Julho 2021


 

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