"Silêncio" - José Paulo Pinto Lobo
Silêncio
Na plácida madrugada
Tento escutar meus finados
Silenciosos estão todos
Por motivo desconhecido
Esconjuro seus mutismos
Para ouvir ensinamentos
Em absoluto silêncio
Persistem respondendo
Uma imagem vale mais
Que mil palavras proferidas
Mas o incómodo silêncio
Intima vinte mil filigranadas
As palavras são pesadas
Não raro imponderadas
Enfim se pronunciaram
Os espíritos emudecidos
Acabei então percebendo
Que no profundo silêncio
As palavras se aquietam
E frui livre o pensamento
Sobrevoando desertas terras
Escutando o fragor das batalhas
As tristes mortes sem sentido
Das gentes de grito desacudido
Do fundo das suas campas
Nos fitam mudos e quedos
Tantos mortos inocentes
Inquirindo inconformados
Porque nos silenciamos
Incontáveis vezes
Ante injustiça e crueldade?
Corrupção e perversidade?
Nos quedando imóveis
Em nosso conforto
Perscrutando apenas
O som do silêncio
José Paulo Pinto Lobo
Cascais, 17 de Julho 2021
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