sábado, 31 de julho de 2021

Sete fragmentos do “Livro de Eros” - Casimiro de Brito

 



Sete fragmentos do “Livro de Eros”





531


Uma enorme acumulação de milénios fez com que só sintamos o corpo quando ele nos dói. Eros é a exceção: o nosso corpo é, então, uma flauta louca.


625


Dou-te a minha flauta. Dás-me a tua viola? Música de câmara.


927


O amor deve muito aos poetas. Mas não sei o que seria dos poetas se não fosse o amor.


1721


Eu sei muito bem que fui o teu instrumento. Essas vezes em que me senti flauta na tua boca e violoncelo entre as tuas pernas.


1800


Se gostas de sangue, diz-me a amiga, bebe-me, sou, sinto-me uma ferida aberta. Se não gostas bebe-me de igual maneira, aprenderás a gostar.


2344


Uma cantora e duas flautistas num muro de Alexandria por onde circulam, há milhares de anos, as cortesãs. Fragmentos.


“Eros proclama pelos vossos lábios, ó mulheres!


O mais doce e oloroso dos prazeres (…)


Para que me amem, ó deus cruel, ó deus maldito,


O teu único segredo é fazer com que me odeiam (…)


Porque tu, Eros, que dominas o mundo e os deuses,


Dominas também a própria morte.”


4029


Canto as bacantes, louvo as mulheres que se libertam da mediocridade a que chamam “pureza” e se entregam a um delírio orgiástico e, ao mesmo tempo, místico. Bacante é a mulher que ama, ainda que ame um só homem.




Casimiro de Brito





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