Sete fragmentos do “Livro de Eros” - Casimiro de Brito
Sete fragmentos do “Livro de Eros”
531
Uma enorme acumulação de milénios fez com que só sintamos o corpo quando ele
nos dói. Eros é a exceção: o nosso corpo é, então, uma flauta louca.
625
Dou-te a minha flauta. Dás-me a tua viola? Música de câmara.
927
O amor deve muito aos poetas. Mas não sei o que seria dos poetas se não fosse o
amor.
1721
Eu sei muito bem que fui o teu instrumento. Essas vezes em que me senti flauta
na tua boca e violoncelo entre as tuas pernas.
1800
Se gostas de sangue, diz-me a amiga, bebe-me, sou, sinto-me uma ferida aberta.
Se não gostas bebe-me de igual maneira, aprenderás a gostar.
2344
Uma cantora e duas flautistas num muro de Alexandria por onde circulam, há
milhares de anos, as cortesãs. Fragmentos.
“Eros proclama pelos vossos lábios, ó mulheres!
O mais doce e oloroso dos prazeres (…)
Para que me amem, ó deus cruel, ó deus maldito,
O teu único segredo é fazer com que me odeiam (…)
Porque tu, Eros, que dominas o mundo e os deuses,
Dominas também a própria morte.”
4029
Canto as bacantes, louvo as mulheres que se libertam da mediocridade a que
chamam “pureza” e se entregam a um delírio orgiástico e, ao mesmo tempo,
místico. Bacante é a mulher que ama, ainda que ame um só homem.
Casimiro de Brito
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