terça-feira, 13 de julho de 2021

"Pandemia" - Brassalano Graça


 


Pandemia

 

 




Lisboa não continua uma cidade fantasma,


Lisboa permanece habitada por fantasmas,


que cirandam pesarosos por ela


como sombras avulsas e absurdas,


destituídas de corpos rubros,


para quem a luz mantém-se branca


como pintura do vazio,


o amargo calor do silêncio


que agoniza nas pedras da calçada


donde se levanta o cheiro do medo,


expresso na penumbra das vitrines


e no fumo dos seus reflexos,


a beleza citadina exangue,


submersa na desolação dos sentidos,


as árvores vergam-se ao peso da tristeza do céu,


as estátuas são anjos ensandecidos,


esquecidos na fuga à liberdade,


a maldição flutua nos olhos álacres dos cães,


e os pombos voam baixo


sobre ruínas de esplanadas e jardins,


vindos das traseiras do Sol,


onde prossegue a contagem macabra do pesadelo.


«a morte saiu à rua num dia assim».


O látego do luto ensanguenta


a Lua, e a noite torna-se infinita saudade.



 

Brassalano Graça




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