"Pandemia" - Brassalano Graça
Pandemia
Lisboa não continua uma cidade fantasma,
Lisboa
permanece habitada por fantasmas,
que
cirandam pesarosos por ela
como
sombras avulsas e absurdas,
destituídas
de corpos rubros,
para
quem a luz mantém-se branca
como
pintura do vazio,
o
amargo calor do silêncio
que
agoniza nas pedras da calçada
donde
se levanta o cheiro do medo,
expresso
na penumbra das vitrines
e
no fumo dos seus reflexos,
a
beleza citadina exangue,
submersa
na desolação dos sentidos,
as
árvores vergam-se ao peso da tristeza do céu,
as
estátuas são anjos ensandecidos,
esquecidos
na fuga à liberdade,
a maldição flutua nos olhos álacres dos cães,
e
os pombos voam baixo
sobre
ruínas de esplanadas e jardins,
vindos
das traseiras do Sol,
onde
prossegue a contagem macabra do pesadelo.
«a
morte saiu à rua num dia assim».
O
látego do luto ensanguenta
a
Lua, e a noite torna-se infinita saudade.
Brassalano Graça
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