quarta-feira, 1 de outubro de 2014

PRÉ-PUBLICAÇÃO "Crítica da Razão Negra" - Achille Mbembe


Três momentos marcaram a biografia deste vertiginoso conjunto. O primeiro foi a espoliação organizada quando, em proveito do tráfico atlântico (século xv ao xix), homens e mulheres originários de África foram transformados em homens-objecto, homens-mercadoria e homens-moeda1. Aprisionados no calabouço das aparências, passaram a pertencer a outros, que se puseramhostilmente a seu cargo, deixando assim de ter nome ou língua própria. Apesar de a sua vida e o seu trabalho serem a partir de então a vida e o trabalho dos outros, com quem estavam condenados a viver, mas com quem era interdito ter relações co-humanas, eles não deixariam de ser sujeitos activos2. O segundo momento corresponde ao acesso à escrita e tem início no final do século xviii, quando, pelos seus próprios traços, os Negros, estes seres-capturados-pelos-outros, conseguiram articular uma linguagem para si, reivindicando o estatuto de sujeitos completos do mundo vivo3. Tal período, pontuado por inúmeras revoltas de escravos, pela independência do Haiti em 1804, por combates pela abolição do tráfico, pelas descolonizações africanas e lutas pelos direitos cívicos nos Estados Unidos, viria a completar-se com o desmantelamento do apartheid nos últimos anos do século xx. O terceiro momento (início do século xxi) refere-se à globalização dos mercados, à privatização do mundo sob a égide do neoliberalismo e do intrincado crescimento da economia financeira, do complexo militar pós-imperial e das tecnologias electrónicas e digitais.
Para ler o texto completo de Achille Mbembe clique aqui

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