A insolvência dos corpos. Autopropriedade e a dinâmica histórica da relação de capital
Por todo o mundo são cada vez mais aqueles que anunciam nas páginas de classificados ou em anúncios on-line a sua inteira disponibilidade para vender um rim, um pulmão, parte do fígado ou um olho; e em princípio nada impede que um mesmo indivíduo venda tudo isso. O facto de o comércio de órgãos ser hoje ilegal em quase todos os países também não parece perturbar em nada o funcionamento do “mercado vermelho” global, nem as correspondentes organizações mafiosas e o “turismo de transplantes”. Face à procura mundial e aos problemas associados ao tráfico de órgãos, não faltam por isso também apologistas da liberalização do seu comércio. “E por que não? Não são os sujeitos modernos proprietários de si mesmos? Qual o sentido de ser proprietário de uma coisa se não a podemos vender?”. No fundo, esta argumentação ideológica neo-liberal limita-se a levar cinicamente até ao fim um dos pressupostos fundamentais do capitalismo mas sobre o qual existe um dos mais amplos consensos: a “propriedade de si”. Não podemos por isso deixar que a raiva e o nojo que sentimos por estes argumentos nos impeça de reconhecer o seu núcleo de verdade. É que a propriedade de si está longe de ser uma forma social transparente e estática que possa ser reflectida escamoteando o carácter fetichista e a dinâmica histórica da totalidade social capitalista. E agora que o capitalismo começa a esbarrar no seu “limite interno absoluto” (Robert Kurz), a autopropriedade revela-se também a categoria capitalista fetichista que na verdade sempre foi, exigindo-se assim uma retrospectiva radicalmente crítica da sua história de sofrimento.
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