sexta-feira, 11 de março de 2022

"Nada tão silencioso como o tempo" - Fiama Hasse Pais Brandão

 




Nada tão silencioso como o tempo

 



 

 

Nada tão silencioso como o tempo


no interior do corpo. Porque ele passa


com um rumor nas pedras que nos cobrem,


e pelo sonoro desalinho de algumas árvores


que são os nossos cabelos imaginários.


Até nas íris dos olhos o tempo


faz estalar faíscas de luz breve.




Só no interior sem nome do nosso corpo


ou esfera húmida de algum astro


ignoto, numa órbita apartada,


o tempo caladamente persegue


o sangue que se esvai sem som.


Entre o princípio e o fim vem corroer


as vísceras, que ocultamos como a Terra.




Trilam os lábios nossos, à semelhança


das musicais manhãs dos pássaros.


Mesmo os ouvidos cantam até à noite


ouvindo o amor de cada dia.


A pele escorre pelo corpo, com o seu correr


de água, e as lágrimas da angústia


são estridentes quando buscam o eco.




Mas não sentimos dentro do coração que somos


filhos diletos do tempo e que, se hoje amamos,


foi depois de termos amado ontem.


O tempo é silencioso e enigmático


imerso no denso calor do ventre.


Guardado no silêncio mais espesso,


o tempo faz e desfaz a vida.

 



 

 

 

 

Fiama Hasse Pais Brandão



 

 

 

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