“Com a Saliva Muito ao Sul”, o aguardado livro de poesia de José Pastor
“Com a Saliva Muito ao Sul”, o aguardado livro de poesia de José Pastor
José de Sousa Miguel Lopes
O Camões – Centro Cultural Português em Maputo e a Editora
Cavalo do Mar têm o prazer de informar que o livro “Com a Saliva Muito ao Sul”, de José Pastor, será lançado no dia 10
de março, às 18h00, no Camões – Centro Cultural Português, em Maputo. A
apresentação do livro será feita pelo escritor Nelson Saúte. O evento contará
também com as intervenções de Luís Lage, João Carlos Trindade e Afonso dos
Santos. A leitura de excertos do livro estará a cargo de Guilherme Mussane.
Para mais detalhes sobre o lançamento e notas biográficas do autor clique aqui
À margem deste lançamento, o autor do Blog “Navegações nas fronteiras do Pensamento” quer registar a enorme satisfação pelo lançamento de uma obra de elevada qualidade literária, obra que certamente irá surpreender todos aqueles que tiverem oportunidade de desfrutarem de sua leitura.
Neste
livro de poesia José Pastor aborda, com visão aguda e de forma elaborada,
vários aspectos da realidade cultural moçambicana. Por meio de histórias
inventadas e de personagens que nunca existiram, José Pastor torna possível
levantar e discutir, de modo prazeroso e lúdico, assuntos humanos relevantes,
muitos deles, aliás, geralmente evitados pelo discurso didático-informativo – e
mesmo pela ciência – justamente por serem considerados subjetivos, ambíguos e
imensuráveis. Quais são eles? Entre outros: as paixões e as emoções humanas,
sobretudo o amor; a busca do autoconhecimento; a construção da voz pessoal; as
inúmeras dificuldades em interpretar o Outro; a sempre complicada distinção
entre a “realidade” e a “fantasia”; a existência de diferentes pontos de vista
válidos sobre um mesmo assunto, etc.
Para alguns estudiosos, o que chamamos “realidade” não passa, na verdade, de uma construção social e, por este viés, só conseguimos ver o que estamos socialmente condicionados a ver. A mais importante característica da escrita de José Pastor é a sua capacidade de reconhecer e colocar “peculiaridades universais” na realidade moçambicana.
Na sua escrita, particularmente nos seus textos em prosa (que farão parte de outro livro ainda sem data de publicação), é possível captar, mesmo que em meio ao mais conturbado tumulto, minúcias que muitas pessoas consideram características únicas de suas personalidades, mas que, na verdade, estão presentes em outros seres humanos. Nestes textos em prosa o leitor se depara com expressões surpreendentes como “Madrugava a malandrice no teu rosto”, “olhos espreitantes”, “Seus olhos infantis, abusados de canseira, brilhavam no musgo tresnoitado de uma ideia”, “A vastidão do silêncio”, “À alegria dei-lhe a folhagem do meu rosto”, “Esvoaçavam constelações de nevoaça”.
Com a graça e inventividade das palavras, José Pastor homenageia a beleza dos simples e dos pequenos atos. Sem esquecer que o simples está muito longe de ser sinônimo do óbvio. E nesse ato criativo ele trata com surpreendente maestria a subversão da língua portuguesa.
Com
minha esposa e filha partilhamos uma amizade muito forte com o José Pastor (Duarte
Silva, como todos nós o tratávamos). Era um ser humano com uma enorme
generosidade, profundo conhecedor do campo da História, transbordava uma enorme
alegria, quase sempre gesticulando numa atitude corporal bem teatral e
divertida. Como esquecer as ricas discussões onde abordávamos temas de variada
natureza, sobretudo, os ligados à Arte (poesia, contos, teatro...), à História
e à política? Nas escolas em Moçambique onde trabalhou e nas três escolas
moçambicanas em Cuba onde, além de professor, era Coordenador Pedagógico, seus
alunos tinham a maior admiração pelo seu trabalho de educador e agente
cultural.
Por
isso, é com satisfação que o blog “Navegações
nas fronteiras do Pensamento”, que tem cerca de 7.000 acessos diários, dá
testemunho deste acontecimento tão significativo para arte e cultura
moçambicana e não só.
Este blog tem, até ao momento, 2.218 poemas de autores de várias nacionalidades (Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Octavio Paz, Carlos Drummond de Andrade...). E é curioso que o poema mais acessado é, exatamente, um poema do José Pastor, que tem, até ao momento, 6.200 acessos e que podem lê-lo aqui
Apresento
mais dois poemas:
Uma palavra final sobre o excepcional trabalho realizado pelo nosso amigo comum, o poeta Afonso dos Santos, a quem o autor tinha deixado seus textos em dezenas de folhas todas dispersas. Esta obra que agora vem à luz do dia, só foi possível devido ao trabalho desafiador do Afonso. Sem seu empenho, que combinou talento e sensibilidade, talvez tivéssemos perdido, para sempre, uma joia preciosa da literatura moçambicana. Tal como aconteceu com alguns manuscritos valiosos que se perderam em outras épocas e em outros lugares, sentiríamos também a mais dolorosa tristeza, sim, essa que nos impediria de ter acesso a uma obra de arte construída pela engenhosidade do José Pastor. Felizmente, Afonso impediu tão infausto acontecimento. Para ele, vai o nosso mais profundo reconhecimento.
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