quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Soneto do amor difícil

 




Soneto do amor difícil

 



 

 

A praia abandonada recomeça


logo que o mar se vai, a desejá-lo:


é como o nosso amor, somente embalo


enquanto não é mais que uma promessa...




Mas se na praia a onda se despedaça,


há logo nostalgia duma flor


que ali devia estar para compor


a vaga em seu rumor de fim de raça.




Bruscos e doloridos, refulgimos


no silêncio de morte que nos tolhe,


como entre o mar e a praia um longo molhe


de súbito surgido à flor dos limos.




E deste amor difícil só nasceu


desencanto na curva do teu céu.





 

 

David Mourão-Ferreira





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