quarta-feira, 27 de outubro de 2021

"Até amanhã" - Eugénio de Andrade

 




Até amanhã



 

 

 

 

 

Sei agora como nasceu a alegria


como nasce o vento entre barcos de papel,


Como nasce a água ou o amor


quando a juventude não é uma lágrima




É primeiro só um rumor de espuma


à roda do corpo que desperta,


sílaba espessa, beijo acumulado


amanhecer de pássaros no sangue




E subitamente um grito,


um grito apertado nos dentes,


galope de cavalos no horizonte


onde o mar é divino e sem palavras.




Falei de tudo quanto amei.


De coisas que te dou


para que tu as ames comigo:


a juventude, o vento e as areias.



 

 

 

 

Eugénio de Andrade



 

 

 

 

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