segunda-feira, 1 de março de 2021

"Plano" - Nuno Júdice

 




Plano

 


Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor


que se despeja no copo da vida, até meio, como se


o pudéssemos beber de trago. No fundo,


como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na


boca. Pergunto onde está a transparência do


vidro, a pureza do líquido inicial, a energia


de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta


são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa


da alma suja de restos, palavras espalhadas


num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira


hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,


esperando que o tempo encha o copo até cima,


para que o possa erguer à luz do teu corpo,


e veja, através dele, o teu rosto inteiro.



 

Nuno Júdice


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