sexta-feira, 26 de março de 2021

"Cheiro de espádua" - Alberto de Oliveira

 





Cheiro de espádua



 

 

 

 

Quando a valsa acabou, veio á janela


Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,


Eu, viração da noite, a essa hora entrava


E estaquei, vendo-a decotada e bela.



 

Eram os ombros, era a espádua, aquela


Carne rosada um mimo! A arder na lava


De improvisa paixão, eu, que a beijava,


Hauri sequiosa toda a essência dela!



 

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!


Sair velada da mantilha. A esteira


Sigo, até que a perdi, de seu perfume.



 

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,


Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira


Este ar da noite àquela espádua linda!



 

 

 

 

Alberto de Oliveira (1859-1937)


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