HUMOR - Anglicismos...
Anglicismos...
“(...)
Pense no que está no seu top of mind. Se tem ou não tem a drive. Nesse mindset.
Estará na cloud? O importante é estar sempre on. Viu o mail? Foi ao chat?
Recebeu o briefing. Fez o debriefing. Teve atenção ao target e ao benchmark.
Fez o brainstorm com vista ao break-even. O problema é o budget. Mas pense no
ROI. Não tem business plan. É um B to B; não um B to C. Não ouviu o chairman? É
o nosso core business. Tem de experimentar o coaching. Falta-nos mentoring.
Trabalha em cowork. Conseguiu com crowdfunding. Mas não se esqueça do deadline.
Recebeu o forward? Agora, faça o follow-up. Dê-nos feedback. E cuidado com o
gap.
É uma
questão de know-how. A ninguém já interessam qualidades, capacidades ou
atributos; somente as skills. Não há fundadores nem criadores; há founders. Já
não se conhece pessoas; faz-se networking. Ninguém abre uma pastelaria; tem uma
startup. E há o pitch, os players, o spin, o spin-off, os stakeholders, o take
off e o set up. O importante é rodear-se dum staff multitasked que entenda as
trends, mas pense out of the box. E escolher bem o timing na hora do kickoff.
Confesse lá. Quantos destes termos não percebeu realmente? Quantos não usou na
última semana, para não dizer hoje mesmo?
E o pior é o desgaste. O stress. Sim, sim, vimos o que fizemos aqui: o stress.
Até isso. Em inglês. Poderia ser outra língua, poderia ser outra filosofia.
Pense no francês. Lembra-se de quando era o francês o grande influenciador –
influencer? – da língua e cultura pátrias? Ó saudade. O bâton, o parfum, a
patisserie, o chauffer, o coiffeur, o robe de chambre, a lingerie, o soutien, o
boudoir, a boîte, a bohème – as coisas realmente importantes da vida. A chaîse
longue, Jesus Cristo, a chaîse longue! A delicadeza, a classe, a preguiça, a
demora, a textura de cada palavra destas… Quão longe estávamos do frenesim
ruidoso e áspero do think tank e das conference calls, das talks, do
downsizing, das key words e dos highlights. Que se passa com essa gente que
desce uma rua nas Olaias como se desfilasse para fora dum filme em Wall Street?
Ao diabo o corporate e as commodities. Até para descansar é preciso comprar o
pack e ir em jeans e t-shirt para o resort, mais o trolley, o tablet, os phones
e o streaming.
Está tudo perdido? Claro que está. Estamos on the same page. Diz o report.
Precisamos de team building. Tudo ASAP. E até quando rebentamos, já não temos
esgotamentos; temos burnouts.
E os trainees, as brands, os accounts e os assets. O cash-flow, a mailing list,
o background, o merchandising e o mainstream. Ide à meretriz que vos pôs no
mundo, hypes, bits, beats, spots e hipsters, blogs, posts, comments, shares,
views, hits e likes. O sentido da vida é agora contabilizável, FYI – For your
Information – possivelmente em KPIs – key performance indicators (in case
youdon’t know). Soft sponsoring, product placement e hard sell, vão ler Eça e
encher-se do que de mais haja na choldra.
Mando o layout assim que tiver os teus inputs. Seguindo as guidelines
internacionais e os insights locais. Tudo premium, evidentemente. A guita segue
em attachment, como vi no showroom, diz o slogan, e o claim, no outdoor, online
e offline, se não for para o spam, como aprendemos no workshop. O approach foi
acordado com o departamento de research e tem em conta o pipeline e o workflow.
Tudo para o melhor outcome.”
Autor desconhecido
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