quinta-feira, 25 de março de 2021

"O amor aos sessenta" - Alberto da Costa e Silva

 






O amor aos sessenta

 

 


Isto que é o amor (como se o amor não fosse


esperar o relâmpago clarear o degredo):


ir-se por tempo abaixo como grama em colina,


preso a cada torrão de minuto e desejo.



 

Ser contigo não sendo como as fases da lua,


como os ciclos de chuva ou a alternância dos ventos,


mas como numa rosa as pétalas fechadas,


como os olhos e as pálpebras ou a sombra dos remos



 

contra o casco do barco que se vai, sem avanço


e sem pressa de ausência, entre o mito e o beijo.


Ser assim quase eterno como o sonho e a roda


que se fecha no espaço deste sol às estrelas



 

e amar-te, sabendo que a velhice descobre


a mais bela beleza no teu rosto jovem.


 

 

Alberto da Costa e Silva


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