sábado, 9 de dezembro de 2023

"O Esquizofrênico" - Fernando Py

 



O Esquizofrênico

 




No seu delírio vai compondo os gestos


diante da plateia inexistente;


ele próprio é a plateia, mas não sente


do espetáculo mais que os pobres restos


que a memória lhe acende nos esgares


da fisionomia descomposta.


No seu delírio a fala, sem resposta,


se resolve em grunhidos singulares,


num discurso arbitrário de fonemas


reduzidos à simples expressão


de sons primevos que de sempre estão


revelando carências, e as extremas


ruínas de seu cérebro em pedaços.


Os gestos multiplicam-se em algemas


e a plateia se cala, membros lassos.



 

Fernando Py


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