"Natal em Gaza" - Eva Cruz & "Se eu tiver de morrer" - Refaat Alareer e Farah Siraj
Natal em Gaza
Mais uns versos a martelo
Merecendo ser a cinzel
Na rude textura da pedra
Bordados na maciez da seda
Ou pintados no papel
Mas a arte não chega a tanto.
Natal dos meninos de Gaza
Sem lar, sem lareira
Sem eira nem beira
No amparo de uma palmeira
Que as bombas deixaram de pé.
Natal! Futuro!
Tudo em escombros
Sem esperança e sem fé.
Legitimados terroristas
Assassinos
Marginais
apoiados por monstros
enlouquecidos
Que se dizem normais
Matam crianças a rodos
Entoando as Boas Festas
Glória a Deus nas alturas
Ao som de balas e canhões.
Digo tristemente mea culpa
Por nada poder fazer
De pés e mãos atados
Sem saber como lutar
Mas a nada vou ceder.
Nestes versos tão pobres
Cabe a rima da revolta
A cadência da luta
E a melodia da esperança
Numa vitória da justiça
Em que a paz há-de chegar.
Eva Cruz
Se eu tiver de morrer
Se eu tiver de morrer
tu
tens de viver
para
contares a minha história
para
venderes os meus pertences
e
comprares um pedaço de pano
e alguns cordéis
(façam-no
de cor branca com uma cauda comprida)
a
fim de que uma criança, algures em Gaza
ao
virar os olhos para o céu
à
espera do seu pai que morreu envolto em chamas —
sem
se despedir de ninguém
nem sequer dos seus
nem
sequer de si próprio —
veja
o papagaio, o papagaio que tu me fizeste
a
voar alto no céu
e pense
por um momento que vai ali um anjo
que
traz o amor de volta
Se
eu tiver de morrer
deixem-no trazer a esperança
deixem-no
ser uma lenda.
Refaat
Alareer
“If I must die” (“Se eu tiver de morrer”) poema cantado por Farah Siraj que pode escutar clicando aqui
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