"Quem sou eu terminada a noite da estranha? " - Mahmoud Darwish
Quem sou eu terminada a noite da estranha?
Quem
sou eu terminada a noite da estranha? Acordo do meu sonho
com
medo da ambiguidade do dia no mármore da casa, da
penumbra
do sol nas rosas, da água do meu chafariz,
com
medo do leite nos lábios do figo, com medo
da
minha língua, com medo do ar a pentear um salgueiro, com medo
da
obviedade do tempo denso, e de um presente que não é mais
presente,
com medo da minha passagem por um mundo que não é mais
o
meu mundo. Ó desespero, seja misericórdia. Ó morte, seja
bênção
para o estranho que vê o oculto mais claro
que
uma realidade que deixou de ser realidade. Cairei de uma estrela
do
céu numa tenda a caminho de onde?
Onde
está o caminho para qualquer coisa? Vejo o oculto mais evidente que
uma
rua que não é mais a minha. Quem sou eu terminada a noite da estranha?
Eu
caminhava até a essência nos outros, e aqui estou
perdendo
a essência e os outros. Meu cavalo desapareceu na costa atlântica,
o
meu cavalo na costa mediterrânea finca em mim a lança cruzada.
Quem
sou eu terminada a noite da estranha? Não consigo retornar aos
meus
irmãos perto da palmeira da velha casa, não consigo descer
até
o fundo do meu abismo. Ó oculto! Não há coração para o amor... não
há
coração para o amor onde eu possa morar, terminada a noite da estranha...
Mahmoud Darwish
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