sexta-feira, 22 de julho de 2022

"Saudade" - Maria Hilda de J. Alão

 




Saudade

 

 

 



Apalpa meu seio,


Arrebata-me,


Planta meu sonho


Em crateras da lua.


Silencia meus ais.


Cobre-me com etéreo


Corpo


Provocando desmaios.


Acelera meus fluidos


Em queda de cachoeira.


Apalpa meu ventre,


Sente o movimento


De vidas que nele estiveram


Crescendo para o mundo.


Beija-me os lábios em fogo,


Liberta minha fera


Para devorar meus medos.


Ardo em brasas


Na fogueira do meu passado.


Sou, em momentos, hospedeira


Do seu espírito imprevisível


Tornando-me um fragmento


No espaço do tempo.


Vem e rouba das artérias


O vinho que me anima,


Enfraqueço...


Não quero sentir,


Porém estou diante de um xadrez


Disputado, pedra a pedra todo dia.


Ela, cínica, toma o meu rei,


A vitoriosa Saudade,


Para quem perdi o jogo...

 

 



Maria Hilda de J. Alão


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