quarta-feira, 20 de abril de 2022

"Teu corpo principia" - António Ramos Rosa

 




Teu corpo principia

 

 

 

 



Dou-te um nome de água


para que cresças no silêncio.




Invento a alegria


da terra que habito


porque nela moro.




Invento do meu nada


esta pergunta.


(Nesta hora, aqui.)




Descubro esse contrário


que em si mesmo se abre:


ou alegria ou morte.




Silêncio e sol — verdade,


respiração apenas.




Amor, eu sei que vives


num breve país.




Os olhos imagino


e o beijo na cintura,


ó tão delgada.




Se é milagre existires,


teus pés nas minhas palmas.




Ó maravilha, existo


no mundo dos teus olhos.




Ó vida perfumada


cantando devagar.




Enleio-me na clara


dança do teu andar.




Por uma água tão pura


vale a pena viver.




Um teu joelho diz-me


a indizível paz.

 



 

 

 

António Ramos Rosa

 

 



 

 

 

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