"Carnivale" - Myrian Fraga
Carnivale
Porque a carne
É a carne
E tudo mais é fraco
A vida se renova
A cada novo acaso.
Será mesmo a alegria
O gole mais amargo
De um Pierrot que a si
mesmo
Reconhece palhaço?
Ó espelho. Ó espelho,
Cada dias mais baço,
Que alvo contorno é este,
Que disfarce
Afasta deste rosto
O ríctus de cansaço?
Nas se é apenas um rito,
Se é apenas passagem,
Um frenesi, um espasmo,
Um galope de cascos,
Rutilantes, no asfalto.
E ao estridente soar
Das guitarras em pânico,
O tempo se desdobra
Em mil estilhaços
Fragmentos de nada...
Ó Deusa Carnivale,
Embala nos teus braços
A alegria dos tristes,
Este embaraço
Do sorriso que se perde
Em carmim e alvaiade.
No rescaldo da festa
Recolhe os pedaços
Deste deus que é delírio
Mas que é também fracasso
Breve
Todo ardor será cinza
Somente a enigmática
Face nos espelhos
Recompondo o disfarce.
Myrian Fraga
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