sábado, 30 de abril de 2022

"Carnivale" - Myrian Fraga


 



Carnivale

 






Porque a carne


É a carne


E tudo mais é fraco


A vida se renova


A cada novo acaso.



 

Será mesmo a alegria


O gole mais amargo


De um Pierrot que a si mesmo


Reconhece palhaço?



 

Ó espelho. Ó espelho,


Cada dias mais baço,


Que alvo contorno é este,


Que disfarce


Afasta deste rosto


O ríctus de cansaço?



 

Nas se é apenas um rito,


Se é apenas passagem,


Um frenesi, um espasmo,


Um galope de cascos,


Rutilantes, no asfalto.



 

E ao estridente soar


Das guitarras em pânico,


O tempo se desdobra


Em mil estilhaços


Fragmentos de nada...



 

Ó Deusa Carnivale,


Embala nos teus braços


A alegria dos tristes,


Este embaraço


Do sorriso que se perde


Em carmim e alvaiade.



 

No rescaldo da festa


Recolhe os pedaços


Deste deus que é delírio


Mas que é também fracasso



 

Breve


Todo ardor será cinza


Somente a enigmática


Face nos espelhos


Recompondo o disfarce.



 

 

 

 

Myrian Fraga

 


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