"entre mão e bala, ser, seres, humanos ou não?" - Fernando Rios
entre mão e bala,
ser, seres,
humanos ou não?
I
bala e mão
embalam e manejam
atraem e rejeitam
corpos
doentes...
ou sãos...
corpos todos portadores
de seres
para o bem ou para o mal
chamados humanos
bala e mão
trazem bons sabores
e péssimos horrores
II
tirar bala e mão do dicionário
requer exímio aprendizado
entre as ciências principais
quem mais se apresenta...
é a política
sobretudo, de corpo a corpo
ela
afasta, arrasa
ou
atrai, aconchega
porque bala e mão
fora do dicionário
tanto multiplicam vítimas e mortos e feridos
quanto procriam aliados e amados e queridos
III
que palavra
fere mais que bala
que palavra
adoça mais que bala
que palavra
agride mais que mão
que palavra
afaga mais que mão
IV
a bala que penetra
deixa um rastro oco, amargo
preenchido com sangue
do próprio corpo
ser humano em molho pardo
a mão que esbraveja
deixa um rastro de furacão
que faz cambalear o corpo
perdido em busca de um norte
ser humano em tempestade
V
uma bala que escorre na garganta
deixa um caminho doce
que se preenche em memórias
feitas em mil infâncias alfenins
entranhas de ser humano em delícia
a mão que encontra um rosto
e desenha um gesto um toque uma ternura
faz seu próprio caminho sereno eterno
feito de preciosas pedras pétalas perfumes
estranho ser humano gentilmente gente
VI
as palavras estão prontas
ávidas aptas aladas
e se repartem
entre bala e mão
entre mão e bala
palavra bala palavra
bala palavra bala
mão palavra mão
palavra mão palavra
VII
dedos e gatilhos
se entendem e desentendem
na falta de palavras
e/ou talvez com elas
e que palavras aladas
tanto atingem faces
quanto acariciam rostos
como pontas de dedos adagas
como pontas de dedos plumas
VIII
não basta decorar o dicionário
vale mais desenhar gestos amenos
e polvilhar hidromel na boca
e escorrer e aquecer momentos pelo corpo
e preparar um intenso abraço
e sentir o sabor do cálido cândido sôfrego beijo
e se embalar e se manejar
chagalmente klimtement
barcos corpos velas ventos árvores
asas sopros ondas voos
envoltos palavrosamente em dicionários
cuidadosamente em palavras ímãs
e então
conviver
calidamente
quentemente
intensamente
coloridos amantes
fraternos amigos
fogo água terra ar
humanas mentes
de chão e vento e mar
IX
e para construir
utopicamente
em qualquer horizonte
algum lugar qualquer
de seres
ditos humanos
dos bons e dos melhores
há que sempre resgatar
e desejar (e)ternamente
a mão que embala
a bala que saliva
Fernando Rios
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