terça-feira, 19 de abril de 2022

"Nenhuma morte apagará os beijos" - Joaquim Pessoa

 




Nenhuma morte apagará os beijos

 

 

 

 

 



Nenhuma morte apagará os beijos


e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas


clandestinas da grande cidade livre


estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,


esses densos sinais do amor e da morte


com que se vive a vida.



 

Aí estarão de novo as nossas mãos.


E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.


Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.


Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,


profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma


líquida e atormentada



 

desvendará em cada minuto o seu segredo


para que este amor se prolongue e noutras bocas


ardam violentos de paixão os nossos beijos


e os corpos se abracem mais e se confundam


mutuamente violando-se, violentando a noite


para que outro dia, afinal, seja possível.



 

 

 

 

Joaquim Pessoa



 

 

 

 

 


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