segunda-feira, 8 de março de 2021

"A tua beleza" - Brassalano Graça

 







A tua beleza

 




A tua beleza fustiga a pele


como faíscas férteis de um metal preciso,


como o látego da chuva torrencial


que sulca o silêncio da noite


em riachos de trevas potentes


como um coração crivado de sonhos imortais


no peito em fogo de um pássaro raro


voando cego sobre o abismo veloz do desejo


a tua beleza arde como um beijo no gume da rosa


esventrada pétala a pétala,


que solta o perfume da queda de estrelas


a teus pés molhados pelo murmúrio das ondas


temperadas pelo sal na língua da Lua


inflamada sobre a madrugada saturada de anjos,


que despem o céu das vestes negras,


banhando-o de uma lágrima de luz,


acesa nos teus lábios


como o grito de um pecado vertiginoso


a tua beleza decifra-se na partitura


em que está inscrita uma canção


que vem do fundo do vento


quando sopra a sul do infinito,


o berço do crepúsculo


naufragado no mar ondulante como uma medusa,


a embriaguez do olhar


imerso na cintilação de nuvens prateadas


como o rosto longínquo da flor


alvoroçada por espirais do Sol


aquando da rebentação da nudez ímpia da canção de amor


derramada pela estrada fora


como rastilho da loucura


a tua beleza ergue-se como uma serpente


acima da linha de pó


que cobre como um manto de escárnio


o cadáver da Humanidade,


erras pelos desertos dos homens


como uma miragem pousada sobre os seus ombros vergados


sob o peso do fardo das suas intangíveis cobiças,


trôpegos ante as suas próprias sombras


diluídas no ópio da tua volúpia,


imortalizas a dança da crisálida


no corpo dorido pelo parto da liberdade


cicatrizada na revolta dos teus cabelos,


a tua beleza paralisa como mata a perfeição de uma bala.




 

Brassalano Graça

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