"A tua beleza" - Brassalano Graça
A
tua beleza
A tua beleza fustiga a pele
como
faíscas férteis de um metal preciso,
como
o látego da chuva torrencial
que
sulca o silêncio da noite
em
riachos de trevas potentes
como
um coração crivado de sonhos imortais
no
peito em fogo de um pássaro raro
voando
cego sobre o abismo veloz do desejo
a
tua beleza arde como um beijo no gume da rosa
esventrada
pétala a pétala,
que
solta o perfume da queda de estrelas
a
teus pés molhados pelo murmúrio das ondas
temperadas
pelo sal na língua da Lua
inflamada
sobre a madrugada saturada de anjos,
que
despem o céu das vestes negras,
banhando-o
de uma lágrima de luz,
acesa
nos teus lábios
como
o grito de um pecado vertiginoso
a
tua beleza decifra-se na partitura
em
que está inscrita uma canção
que
vem do fundo do vento
quando
sopra a sul do infinito,
o
berço do crepúsculo
naufragado
no mar ondulante como uma medusa,
a
embriaguez do olhar
imerso
na cintilação de nuvens prateadas
como
o rosto longínquo da flor
alvoroçada
por espirais do Sol
aquando
da rebentação da nudez ímpia da canção de amor
derramada
pela estrada fora
como
rastilho da loucura
a
tua beleza ergue-se como uma serpente
acima
da linha de pó
que
cobre como um manto de escárnio
o
cadáver da Humanidade,
erras
pelos desertos dos homens
como
uma miragem pousada sobre os seus ombros vergados
sob
o peso do fardo das suas intangíveis cobiças,
trôpegos
ante as suas próprias sombras
diluídas
no ópio da tua volúpia,
imortalizas
a dança da crisálida
no
corpo dorido pelo parto da liberdade
cicatrizada
na revolta dos teus cabelos,
a
tua beleza paralisa como mata a perfeição de uma bala.
Brassalano Graça
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