sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

"Um gesto de silêncio" - Adão Cruz

 






Um gesto de silêncio

 



Todos nós temos os nossos desertos


pequenos ou grandes


e todos nós temos os nossos labirintos


grandes ou pequenos


simples ou complexos.


Os caminhos e os percursos


entre os nossos desertos e os nossos labirintos


mais retos ou mais sinuosos


são ao fim e ao cabo os caminhos da nossa vida.


E esses caminhos são feitos predominantemente de silêncio.


A grande força da nossa vida reside no silêncio


o silêncio das nossas meditações


das nossas reflexões


das nossas decisões


dos nossos segredos e intimidades


dos nossos medos e coragens


dos nossos sonhos e entusiasmos


das nossas alegrias


das nossas mágoas e frustrações.


O silêncio é a primeira voz que um homem ouve


quando está dentro de si.


O silêncio é o respirar do nosso íntimo


a dialética da nossa personalidade


o único espaço onde a mentira não cabe.


O silêncio é o relógio oculto e secreto das nossas horas.


Nós somos a nossa própria teia


e só o silêncio nos deixa ver e separar


os emaranhados fios que a tecem.


A mágica sensatez do silêncio


é o fio-de-prumo da nossa calibração.


São imensas as verdades que podemos conhecer


só por ficarmos estendidos a pensar calmamente


porque as verdades estão em nós


e só o silêncio nos permite desvendá-las.


Tantas vezes o silêncio tem vontade de fugir


e necessidade de gritar…


de gritar as verdades que descobre


mas como o silêncio não tem palavra de se ouvir


vai enformando os mais variados atos da vida


os gestos e as artes da vida que só nele vivem.


Assim nascem assim se criam e se desdobram


todas as nossas inúmeras expressões vivenciais


que mais não são do que as vozes ampliadas


dos nossos próprios silêncios.



 

Adão Cruz


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