"Um gesto de silêncio" - Adão Cruz
Um gesto de silêncio
Todos nós temos os nossos desertos
pequenos ou grandes
e todos nós temos os nossos labirintos
grandes ou pequenos
simples ou complexos.
Os caminhos e os percursos
entre os nossos desertos e os nossos
labirintos
mais retos ou mais sinuosos
são ao fim e ao cabo os caminhos da
nossa vida.
E esses caminhos são feitos
predominantemente de silêncio.
A grande força da nossa vida reside no
silêncio
o silêncio das nossas meditações
das nossas reflexões
das nossas decisões
dos nossos segredos e intimidades
dos nossos medos e coragens
dos nossos sonhos e entusiasmos
das nossas alegrias
das nossas mágoas e frustrações.
O silêncio é a primeira voz que um
homem ouve
quando está dentro de si.
O silêncio é o respirar do nosso íntimo
a dialética da nossa personalidade
o único espaço onde a mentira não cabe.
O silêncio é o relógio oculto e secreto
das nossas horas.
Nós somos a nossa própria teia
e só o silêncio nos deixa ver e separar
os emaranhados fios que a tecem.
A mágica sensatez do silêncio
é o fio-de-prumo da nossa calibração.
São imensas as verdades que podemos
conhecer
só por ficarmos estendidos a pensar
calmamente
porque as verdades estão em nós
e só o silêncio nos permite desvendá-las.
Tantas vezes o silêncio tem vontade de
fugir
e necessidade de gritar…
de gritar as verdades que descobre
mas como o silêncio não tem palavra de
se ouvir
vai enformando os mais variados atos da
vida
os gestos e as artes da vida que só
nele vivem.
Assim nascem assim se criam e se
desdobram
todas as nossas inúmeras expressões
vivenciais
que mais não são do que as vozes
ampliadas
dos nossos próprios silêncios.
Adão Cruz
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