sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

LIVRO - Carolina Maíra Gomes Morais, Matheus Serva Pereira, Regiane Augusto de Mattos (orgs.) Encontros com Moçambique

 



Cerca de três ou quatro décadas atrás quando alguém, no Brasil, dizia que estudava “África” recebia invariavelmente um olhar de admiração e espanto. Admiração, pois certamente vinha à cabeça do interlocutor todo o imaginário acerca do “continente das trevas”, exótico, com seus animais portentosos e ferozes e pessoas com hábitos estranhos, bárbaros e desumanos, popularizado pela cultura pop dos gibis e filmes dos heróis Tarzan e Fantasma que, por serem brancos, se acreditava, entendiam melhor a África do que os próprios africanos. Sentia-se certa ponta de inveja; afinal o objeto de estudo fazia reviver as fantasias da infância. Espanto, pois era preciso muita coragem para escolher tema e área geográfica tão distante quer fisicamente, quer intelectualmente: não havia bibliografia, documentação, interlocutores e nem se adequava aos gostos em moda na academia de então. Quando dizia que estudava África, na verdade era para esconder que estudava um tema menor, situado num tempo curto e em único país. Se esse país fosse Moçambique, a situação piorava e aí o interlocutor se sentia perdido, pois podia nem mesmo saber onde ficava e, definitivamente, o corajoso era tomado por alguma espécie de hippie do mundo universitário, um outsider. Com o passar do tempo, a academia brasileira foi “descobrindo” que a África era mais do que a origem de pessoas escravizadas trazidas ao Brasil e, paulatinamente, o estranhamento foi cedendo espaço ao interesse e o conhecimento foi se ampliando e consolidando. Esse volume é uma prova cabal desse processo. Falar de um único país, sobre temas e períodos distintos, mostra um amadurecimento ímpar da área de estudos africanos entre nós e indica um avanço não só quantitativo, mas sobretudo teórico, à medida que a generalização e homogeneização cedem lugar ao reconhecimento da historicidade específica dos múltiplos povos e culturas africanas. Reconhece-se, assim, a sua humanidade. Convido o leitor a ter o prazer de descobrir tal humanidade nos belos estudos aqui reunidos! 

Valdemir Zamparoni Professor do Programa de Pós-Graduação em História e do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), Universidade Federal da Bahia. 

Para ter acesso ao conteúdo integral do livro (288 págs,) clique aqui

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