domingo, 14 de fevereiro de 2021

"O tempo sujo" - Alexandre O'neill

 





O tempo sujo



Há dias que eu odeio


como insultos a que não posso responder


sem o perigo duma cruel intimidade


coma mão que lança o pus


que trabalha ao serviço da infecção


São dias que nunca deviam ter saído


do mau-tempo fixo


que nos desafia da parede


dias que nos insultam que nos lançam


as pedras do medo os vidros da mentira


as pequenas moedas da humilhação



Dias ou janelas sobre o charco


que se espelha no céu


dias do dia-a-dia


comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho


o sono centenário


mal vestido mal alimentado


para o trabalho


a martelada na cabeça


a pequena morte maliciosa


que na espiral das sirenes


se esconde e assobia



Dias que passei no esgoto dos sonhos


onde o sórdido dá as mãos ao sublime


onde vi o necessário onde aprendi


que só entre os homens e por eles


vale a pena sonhar





Alexandre O’neill


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