terça-feira, 10 de novembro de 2020

"O mago sem pombos - XIII" - Gilberto Nable

 







O mago sem pombos - XIII

 


A glória passa, ao longe,


com seus tambores e penachos.


Mas a vida é tão-só desamparo.




Repare no céu imenso,


nesses infinitos vazios,


nas pirâmides do Egito:




magnificência e pó.




Não repare em mim,


que a tua mesa não trago pão,




nem vinho, nem animo festa:


apenas palavra e irrisão.





Como se o vento da Sibéria


soprasse no meu cabelo,


e da ponta de meu coração


pendesse o fogo do gelo,





eu vejo a paisagem de Hiroshima,


o esqueleto descarnado do século,


e meus olhos não choram mais.


Não choram.



 

Gilberto Nable


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