sábado, 21 de novembro de 2020

"A castidade com que abria as coxas" - Carlos Drummond de Andrade


 



A castidade com que abria as coxas





A castidade com que abria as coxas


e reluzia a sua flora brava.


Na mansuetude das ovelhas mochas,


e tão estreita, como se alargava.




Ah, coito, coito, morte de tão vida,


sepultura na grama, sem dizeres.


Em minha ardente substância esvaída,




eu não era ninguém e era mil seres




em mim ressuscitados. Era Adão,


primeiro gesto nu ante a primeira


negritude de corpo feminino.




Roupa e tempo jaziam pelo chão.


E nem restava mais o mundo, à beira


dessa moita orvalhada, nem destino. 



Carlos Drummond de Andrade

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP