terça-feira, 24 de novembro de 2020

Dicionário pessoal - Letra “P” - Casimiro de Brito




Dicionário pessoal - Letra “P”




PACIÊNCIA


Devoradora, a paciência de quem ama.



PAI


Jamais morrerá o meu pai interior.



PAISAGEM


Nem sempre saio de mim — também há paisagens interiores.



PAIXÃO


Quando uma paixão morre só outra nos salva.



PALAVRA


Esta palavra está vazia sem a tua respiração.



PALAVRA SILENCIOSA


Essa que vem do fundo do coração.



PALCO


A nossa cama, quando nos amamos.



PAR


Um mais um nem sempre é um par.



PARAÍSO


O Paraíso existe: amar, pensar, escrever.



PAREDE


O meu corpo exaltado aquece a parede a que se encosta.



PARQUE


Talvez as estátuas do parque ouçam a música das árvores.



PARTIDA


Passes por onde passares nunca regressarás.



PARTO


Sempre e por toda a parte, o parto.



PASSADO


O passado ressuscita nas palavras que escrevo.



PASSAPORTE


O homem é o único animal que precisa de passaporte.



PÁSSARO


Onde irá pousar o pássaro do coração.



PÁTRIA 


A língua em que escrevo.



PAZ


Viva: quando amo e quando escrevo.



PECADO


Enganas-te chamando pecado ao que podes fazer.



PEDRA


No meio da pedra um caminho e mais outro e outro.



PEIXE


Por onde vagueará o peixe que eu comi?



PELE


A tua pele não é uma lâmpada mas ela ilumina-me.



PÉNIS


Umas vezes airoso, outras vezes envergonhado.



PENSAMENTO


Podem prender-me o corpo, jamais o pensamento.



PENUMBRA


Antecâmara do amor — mas também do sonho.



PERDA


Nada se perde porque nada se ganha. Quem perde um rio?



PERFEIÇÃO


Vezes há em que ela nasce sem mais.



PERFUME


Vento invisível que se levanta dos corpos.



PÉROLA


Não me deem pérolas, umas cerejas basta.



PÉS


Há pés que dançam mesmo quando caminham.



PÉTALA


Também as pétalas da tua flor se fecham.




O pó que sacudo das tuas sandálias.



POBREZA


O mais pobre dos pobres tem algo que outros ambicionam.



PODER


Fico mais leve de cada vez que me liberto de algum poder.



POEMA


Não escrevo poemas, são eles que me escrevem.



POESIA


Minha mulher para sempre de que todas as outras têm ciúmes.



POETA


Um vaso que se abre a todas as águas.



PORTA


Quem abre a porta talvez possa abrir a casa.



PORTUGAL


Celtas, visigodos, romanos e árabes com mar ao fundo.



POUCO


Quanta imensidade neste “pouco” que me basta.



PRAIA


A praia, polida por mil marés, acolhe-me no seu seio.



PRAZER


Há bem mais prazer em dar do que em receber.



PRESSA


“Devagar que tenho pressa”, na vida e na arte.



PRIMAVERA


Eterna foi a Primavera no dia em que te conheci.



PRIMEIRO AMOR


Primeiro amor? Não há. O amor é sempre o derradeiro.



PÚBIS


Planície que já se transforma em doce abismo.



PULSAÇÃO


Quando palpito à sombra da minha amada.



Casimiro de Brito



 

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