Dicionário pessoal - Letra “P” - Casimiro de Brito
Dicionário
pessoal - Letra “P”
PACIÊNCIA
Devoradora, a paciência de quem ama.
PAI
Jamais morrerá o meu pai interior.
PAISAGEM
Nem sempre saio de mim — também há paisagens interiores.
PAIXÃO
Quando uma paixão morre só outra nos salva.
PALAVRA
Esta palavra está vazia sem a tua respiração.
PALAVRA SILENCIOSA
Essa que vem do fundo do coração.
PALCO
A nossa cama, quando nos amamos.
PAR
Um mais um nem sempre é um par.
PARAÍSO
O Paraíso existe: amar, pensar, escrever.
PAREDE
O meu corpo exaltado aquece a parede a que se encosta.
PARQUE
Talvez as estátuas do parque ouçam a música das árvores.
PARTIDA
Passes por onde passares nunca regressarás.
PARTO
Sempre e por toda a parte, o parto.
PASSADO
O passado ressuscita nas palavras que escrevo.
PASSAPORTE
O homem é o único animal que precisa de passaporte.
PÁSSARO
Onde irá pousar o pássaro do coração.
PÁTRIA
A língua em que escrevo.
PAZ
Viva: quando amo e quando escrevo.
PECADO
Enganas-te chamando pecado ao que podes fazer.
PEDRA
No meio da pedra um caminho e mais outro e outro.
PEIXE
Por onde vagueará o peixe que eu comi?
PELE
A tua pele não é uma lâmpada mas ela ilumina-me.
PÉNIS
Umas vezes airoso, outras vezes envergonhado.
PENSAMENTO
Podem prender-me o corpo, jamais o pensamento.
PENUMBRA
Antecâmara do amor — mas também do sonho.
PERDA
Nada se perde porque nada se ganha. Quem perde um rio?
PERFEIÇÃO
Vezes há em que ela nasce sem mais.
PERFUME
Vento invisível que se levanta dos corpos.
PÉROLA
Não me deem pérolas, umas cerejas basta.
PÉS
Há pés que dançam mesmo quando caminham.
PÉTALA
Também as pétalas da tua flor se fecham.
PÓ
O pó que sacudo das tuas sandálias.
POBREZA
O mais pobre dos pobres tem algo que outros ambicionam.
PODER
Fico mais leve de cada vez que me liberto de algum poder.
POEMA
Não escrevo poemas, são eles que me escrevem.
POESIA
Minha mulher para sempre de que todas as outras têm ciúmes.
POETA
Um vaso que se abre a todas as águas.
PORTA
Quem abre a porta talvez possa abrir a casa.
PORTUGAL
Celtas, visigodos, romanos e árabes com mar ao fundo.
POUCO
Quanta imensidade neste “pouco” que me basta.
PRAIA
A praia, polida por mil marés, acolhe-me no seu seio.
PRAZER
Há bem mais prazer em dar do que em receber.
PRESSA
“Devagar que tenho pressa”, na vida e na arte.
PRIMAVERA
Eterna foi a Primavera no dia em que te conheci.
PRIMEIRO AMOR
Primeiro amor? Não há. O amor é sempre o derradeiro.
PÚBIS
Planície que já se transforma em doce abismo.
PULSAÇÃO
Quando palpito à sombra da minha amada.
Casimiro de Brito
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