segunda-feira, 23 de novembro de 2020

"Saudade" - António Vilhena


 


Saudade

 



Olho-te na fotografia. Está lá um horizonte,


uma página à tua espera para escreveres, depois


de tanta ausência. Estão lá as linhas convergentes


como uma nódoa de esperança na pele branca


do poema. Não sou capaz de dizer os instantes à


beira do cais, onde aceno aos navios que outrora


visitaram os meus sonhos, como se estivesses nas


rotas de todos os encontros e as tuas mãos fossem


velas puídas pelo tempo. Olho-me na fotografia.


Acrescento-lhe os anos, mas não posso inventar


o que não vivemos.




 

António Vilhena


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