sábado, 28 de novembro de 2020

"De um amor morto" - Sophia de Mello Breyner Andresen

 





De um amor morto

 


De um amor morto fica


Um pesado tempo quotidiano


Onde os gestos se esbarram


Ao longo do ano



De um amor morto não fica


Nenhuma memória


O passado se rende


O presente o devora


E os navios do tempo


Agudos e lentos


O levam embora



Pois um amor morto não deixa


Em nós seu retrato


De infinita demora


É apenas um facto


Que a eternidade ignora



 

Sophia de Mello Breyner Andresen


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