Moçambique - Documentário "Enviado especial" (2019)
A história de Aquino de Bragança, um
homem que lutou a vida inteira pela paz em África
Documentário
da realizadora portuguesa, de origem goesa, Nalini Elvino de Sousa, que retrata
o sonho de um homem para alcançar o diálogo e a paz. A história de vida de
Aquino de Bragança, um intelectual e jornalista indiano que teve como objetivo
de vida lutar contra o colonialismo e ajudar Goa e todos os países africanos a
obter a independência e a paz. É também a história da sua amizade com Samora
Machel, que foi tragicamente selada por um acidente de avião, a 19 de outubro
de 1986, onde ambos perderam a vida. Nalini Elvino de Sousa, uma portuguesa nascida no seio de uma
família de Goa, trabalhou durante três anos neste documentário sobre Aquino de
Bragança, um homem de múltiplas pátrias que "lutou a vida inteira pela paz
em África". Em 'Enviado Especial', a realizadora, radicada há 20 anos em
Goa, procura retratar a "figura invulgar e com uma visão humanista e de
abertura ao mundo" de Aquino de Bragança (1924-1986) que conviveu de perto
com líderes dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas, como
Samora Machel, ao lado do qual viria a morrer no acidente de aviação de 1986.
Foi o acaso que lhe despertou o interesse: "Estava a fazer uma pesquisa
sobre as relações entre África e Índia e encontrei um blog sobre Aquino de
Bragança. Rapidamente, veio a memória do acidente que vitimou Samora Machel e
quase toda a sua comitiva: Eu tinha 13 anos e era o dia do meu aniversário, 19
de outubro". Aquino teve múltiplas facetas, mas foi sobretudo um homem
dedicado à libertação dos povos, uma causa que abraçou muito para lá das
fronteiras de Goa, onde nasceu. No entanto, há uma a que Nalini Elvino de Sousa
confere especial importância: a de humanista. "Apesar de conviver com
líderes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas que, mais tarde,
assumiram funções de relevo após a independência dos seus países, ele
acreditava que esta passava por um entendimento com o 'colonizador'",
sublinha. "Numa altura em que todos tinham que provar fidelidade a um
lado, demonstra uma capacidade de pensamento singular. É sua a frase: 'Sou
capaz de negociar com o próprio Salazar'", complementa, destacando que a
"rede de contatos duradoura" que construiu dependia apenas do seu
"incondicional humanismo". Apesar de se autodescrever como "testemunha
da história", foi "uma peça relevante num jogo de poderes" em
três continentes (Europa, Ásia e África), "cujos tentáculos se prolongam
de Washington a Moscou em plena Guerra Fria", realça a realizadora,
explicando que em "Enviado Especial" pretende mostrar "a
capacidade de análise política, imparcial e a longo prazo" de Aquino.
Embora sem "poder oficial", "ele influencia os que exercem poder
e contribuem para a mudança do curso da história. Uma história que não chega,
porém, a ter um fim, pois morre num acidente de aviação - cuja causa ainda não
foi totalmente deslindada - e que tirou também a vida a Samora Machel,
[primeiro Presidente de Moçambique (1975-86)], que não dispensava viajar com o
seu enviado especial". "Muito se conta sobre os líderes africanos das
ex-colónias portuguesas, porém, pouco se conhece sobre os que atuaram nos
bastidores", enfatiza, exemplificando: "Poucos sabem que foi o
enviado especial de Samora Machel a Portugal em 1974, após o 25 de Abril, para
uma análise política". O documentário foca "este período da vida e do
trabalho de Aquino que constitui um contributo essencial para o Acordo de
Lusaka, assinado em 07 de setembro de 1974, [entre o Governo português e a
Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que preparou a independência do
país em 25 de junho do ano seguinte]", destacando "os momentos
históricos" que o tornaram "num incondicional homem do mundo".
"Ele está sempre no lugar certo, onde mais ninguém chega: para ele não
existem fronteiras, raças, diferenças de idade e de ideologia que o impeçam de
se relacionar com o outro", salienta. A realizadora lançou uma campanha na
plataforma de 'crowdfunding' Wishberry, para angariar 300.000 rupias (3.900
euros), para poder adicionar a música de Santiago Lusardi ao documentário e
algumas imagens de arquivo, ainda muito raras, dos anos 1960 de Portugal e
Moçambique. Nalini Elvino de Sousa, que conta com mais de 100 documentários e
colabora há vários anos com a RTP Internacional, reconhece que sem essa verba
"Enviado Especial" não teria conhecido a luz do dia. Para assistir ao
documentário (1:00) clique no vídeo aqui
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