quinta-feira, 8 de outubro de 2020

"A íris selvagem" - Louise Glück (Prêmio Nobel da Literatura 2020)

 





A íris selvagem

 

 

 



No final do meu sofrimento



havia uma saída.


 

 

 

Me ouça bem: aquilo que você chama de morte



eu me recordo.


 

 

 

Mais acima, ruídos, ramos de um pinheiro se movendo.



Então, nada. O sol fraco



cintilando sobre a superfície seca.


 

 

 

É terrível sobreviver



como consciência,



enterrada na terra escura.


 

 

 

Então tudo acabou: aquilo que você teme,



se tornando



uma alma e incapaz



de falar, encerrando abruptamente, a terra dura



se inclinando um pouco. E o que pensei serem



pássaros lançando-se em arbustos baixos.


 

 

 

Você que não se lembra



da passagem de outro mundo



eu te digo poderia repetir: aquilo que



retorna do esquecimento retorna



para encontrar uma voz:


 

 

 

do centro de minha vida veio



uma vasta fonte, azul profundo



sombras na água do mar azul.


 

 

 

 

Louise Glück*

 

 



*O júri escolheu a poeta norte-americana pela “sua inconfundível voz poética que com austera beleza torna universal a existência individual”. Atualmente a viver em Cambridge, Massachussetts, nos EUA, Louise Glück, de 77 anos, é professora de Língua Inglesa na Universidade de Yale.


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