sábado, 31 de outubro de 2020

"Poema de Outono" - Adão Cruz

 






Poema de Outono


 


Ainda caiem a meus pés


bolinhas de sol e pérolas de chuva


do alto da varanda que eu já fui


e fazem brilhar humildemente


a ilusão das cores e a frouxa luz


que há na sombra dos dias.


O poema mais lindo da minha vida


ainda não nasceu.


Sonhei criá-lo hoje contigo


neste princípio de Outono


semente e fruto de teus jovens abraços.


Mas tu caminhavas na outra margem


de rosto escondido atrás da máscara


fugindo do amor banal


olhos baços de chorar sem lágrimas


a alma tão resignada de cruéis memórias


que o beijo ardente se perdeu no rio.


O meu rio


outrora vivo e turbulento


hoje parado e vencido nos braços do estuário


onde me dizem que ainda há versos


voando perdidos e dispersos


como gaivotas bailando.


Mas o mar ali tão perto tudo engole


nas furiosas ondas do seu ancestral poder


devorando qualquer poema antes de nascer.


Que ao menos a réstia de luz do fim da tarde


mesmo sem bolinhas de sol e pérolas de chuva


me deixe pintar a memória da emoção


na tela sofrida e nua do teu corpo


deitado sobre a luminosa doçura da ilusão.



 

Adão Cruz


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