quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"Memória" - António Vilhena

 




Memória



Gastámos a pele num areal sem gaivotas


incendiados na lava do desejo onde outrora


trocavam escravos de outras especiarias.


Nas bocas de Agosto a sede trouxe


a espuma do efémero depois do sol.




Somámos a solidão das rosas e os aromas


da viagem que acrescenta sonho ao horizonte.


Gastámos os sentidos sem sabermos um do outro


e os dias imaginados num poema escrito avulso


na face do vento.




Quando não estás a pele desoculta as cicatrizes


como se o nevoeiro desnudasse o passado


e a urgência do presente te trouxesse


desse tempo em que o teu olhar


fugidio se fundia na cumplicidade antiga




António Vilhena


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