quarta-feira, 21 de outubro de 2020

"Meu tempo" - Gilberto Nable

 



Meu tempo

 



Chegou? É chegado o meu tempo?


Devo ajoelhar-me e chorar de medo?


Com minhas pálpebras semiabertas,


darei meu adeus definitivo e breve,


aos que me amaram e a quem amei,


e àqueles que aprenderam a me odiar,


por razões aparentes, as mais variadas,


e os motivos estranhamente plausíveis.


Depois as coisas voltarão aos seus lugares,


com os mínimos sinais de vida,


de onde, afinal, nunca saíram:


as roupas estendidas nos varais,


a chuva escurecendo pedras na calçada,


e alguém que dirá, em vão: — Foi assim!


como a agulha procura o fio,


e o fio encontra a sua meada.



 

Gilberto Nable



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