sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Poemas de celebração: Brasil, Moçambique e Portugal





Poema de Natal






Para isso fomos feitos:


Para lembrar e ser lembrados


Para chorar e fazer chorar


Para enterrar os nossos mortos –


Por isso temos braços longos para os adeuses


Mãos para colher o que foi dado


Dedos para cavar a terra.




Assim será a nossa vida:


Uma tarde sempre a esquecer


Uma estrela a se apagar na treva


Um caminho entre dois túmulos –


Por isso precisamos velar


Falar baixo, pisar leve, ver


A noite dormir em silêncio.




Não há muito que dizer:


Uma canção sobre um berço


Um verso, talvez, de amor


Uma prece por quem se vai –


Mas que essa hora não esqueça


E por ela os nossos corações


Se deixem, graves e simples.




Pois para isso fomos feitos:


Para a esperança no milagre


Para a participação da poesia


Para ver a face da morte –


De repente nunca mais esperaremos...


Hoje a noite é jovem; da morte, apenas


Nascemos, imensamente.



 

 

 

 

Vinicius de Moraes









Um abraço natalício de Cabo Delgado



 

Apenas porque assim o chamam


Este dia dito de festa de Natal


Vai ser igual a todos os outros


De reencontro festivo de família e amigos



 

Aqui em casa não vai ter árvore de Natal fantástica


Cheia de serpentinas, enfeites brilhantes e prendas personalizadas



 

Não vai ter velas, nem luzes pirilampo nas portas, árvores e jardins


desafiando a beleza do esplendor das galáxias



 

Não vai ter mesa pródiga de comidas apetitosas e bebidas avulsas


Nem visita do Papai Natal cheio de oferendas para as crianças



 

Não vai ter ornamentos sinalizando a fé em Deus


Nem ninguém assistira a missa do galo ou verá em presépio imagens da sagrada família



 

Neste Natal não vai haver correrias as compras nas lojas e mercados


Nem sequer aquela preocupação de gastar o que não ganhou



 

Não vai ser também um Natal triste, desalentado


Por razões de infortúnio de vizinho, ou de grave doença de nosso familiar.



 

Vai ter apenas aquele Natal de sentimento, com espírito natalício


Cheio de emoções de alegria dos olhos do amor, Paz e luz


Vibrando a magia das sensações do reencontro da família



 

Vai ter aquele Natal de sentimento de perdão e fraternidade


Cheio de gargalhadas troçando a sorte do nosso sofrimento


Risos e correrias das crianças sobreviventes da guerra da cobiça



 

Vai ter Natal de sentimento de lavagem de nossas mágoas para um novo recomeço


Adultos sentados saboreando a fragância das mãos de compaixão da solidariedade


Com discursos mudos de irreverência a armadilha da pobreza orquestrada



 

E se não chover, nem ciclonear torrencialmente


Brindaremos a dádiva da vida, com sabor a sobrevivência mágica e esperança renovada


nas ruelas entre as tendas para migrantes, com compaixão, a nós oferecidas.



 

Vai ter Natal de sentimento com espírito natalício


Olhando para os imaginários fogos-de -artificio urbanos


Coloridos de fantasias brilhantes, mais que os nossos sonhos e céus cintilantes


E com o coração apertado, cheio de medo de um outro ataque insurgente sanguinário.



 

E ainda assim, irmão,


Te desejo boas festas


E um Ano Novo cheio de prosperidade


Neste abraço fraterno de Cabo Delgado.



 

Fim




Rwesy




Kampala 23 de Dezembro 2021










Natal



 

 

 

 

Leio o teu nome


Na página da noite:


Menino Deus...


E fico a meditar


No milagre dobrado


De ser Deus e menino.


Em Deus não acredito.


Mas de ti como posso duvidar?


Todos os dias nascem


Meninos pobres em currais de gado.


Crianças que são ânsias alargadas


De horizontes pequenos.


Humanas alvoradas...


A divindade é o menos.


 

 

 

 

Miguel Torga








Divulgando o mais recente livro do autor do blog Aqui    


 

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP