Poemas de celebração: Brasil, Moçambique e Portugal
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
Um abraço natalício de Cabo Delgado
Apenas porque assim o chamam
Este dia dito de festa de Natal
Vai ser igual a todos os outros
De reencontro festivo de família e amigos
Aqui em casa não vai
ter árvore de Natal fantástica
Cheia de serpentinas, enfeites brilhantes e
prendas personalizadas
Não vai ter velas, nem luzes pirilampo nas portas,
árvores e jardins
desafiando a beleza do esplendor das
galáxias
Não vai ter mesa pródiga de comidas apetitosas
e bebidas avulsas
Nem visita do Papai Natal cheio de oferendas
para as crianças
Não vai ter ornamentos sinalizando a fé em
Deus
Nem ninguém assistira a missa do galo ou verá
em presépio imagens da sagrada família
Neste Natal não vai haver correrias as
compras nas lojas e mercados
Nem sequer aquela preocupação de gastar o
que não ganhou
Não vai ser também um Natal triste, desalentado
Por razões de infortúnio de vizinho, ou de
grave doença de nosso familiar.
Vai ter apenas aquele Natal de sentimento,
com espírito natalício
Cheio de emoções de alegria dos olhos do amor,
Paz e luz
Vibrando a magia das sensações do
reencontro da família
Vai ter aquele Natal de sentimento de
perdão e fraternidade
Cheio de gargalhadas troçando a sorte do
nosso sofrimento
Risos e correrias das crianças
sobreviventes da guerra da cobiça
Vai ter Natal de
sentimento de lavagem de nossas mágoas para um novo recomeço
Adultos sentados saboreando a fragância das
mãos de compaixão da solidariedade
Com discursos mudos de irreverência a
armadilha da pobreza orquestrada
E se não chover, nem ciclonear torrencialmente
Brindaremos a dádiva da vida, com sabor a
sobrevivência mágica e esperança renovada
nas ruelas entre as tendas para migrantes,
com compaixão, a nós oferecidas.
Vai ter Natal de sentimento com espírito natalício
Olhando para os imaginários fogos-de -artificio
urbanos
Coloridos de fantasias brilhantes, mais que
os nossos sonhos e céus cintilantes
E com o coração apertado, cheio de medo de
um outro ataque insurgente sanguinário.
E ainda assim, irmão,
Te desejo boas festas
E um Ano Novo cheio de prosperidade
Neste abraço fraterno de Cabo Delgado.
Fim
Rwesy
Kampala
23 de Dezembro 2021
Natal
Leio
o teu nome
Na
página da noite:
Menino
Deus...
E
fico a meditar
No
milagre dobrado
De
ser Deus e menino.
Em
Deus não acredito.
Mas
de ti como posso duvidar?
Todos
os dias nascem
Meninos
pobres em currais de gado.
Crianças
que são ânsias alargadas
De
horizontes pequenos.
Humanas
alvoradas...
A
divindade é o menos.
Miguel
Torga
Divulgando o mais recente livro do autor do blog Aqui
0 comentários:
Postar um comentário