Navegando pelo cinema
Alain Bergala - Coletivo
Há uma ideia que corre por aí - uma ideia absolutamente falsa -
que diz que o cinema seria uma arte coletiva. Admite-se o fato
de que para se fazer um filme é preciso uma equipe com muitas
pessoas - como se a criação não fosse de uma única pessoa, mas
uma criação coletiva. Tal proposição é evidentemente louca, isto
é, no cinema, há muitas pessoas que trabalham no filme, mas
apenas uma tem o filme na cabeça. Há apenas uma que, quando ela faz um plano, sabe como este plano depois vai voltar no
filme.
A organização de uma filmagem profissional, na realidade, é
como um exército muito rígido. Tem aquele que dá as ordens,
que reflete, que tem o filme na cabeça, que é o diretor. E em seguida, as pessoas que estão a serviço do filme. Mas, é o oposto
de uma criação coletiva. Em uma criação coletiva, cada um
traz escolhas e criação em um sentido mais forte. O câmera e o
iluminador, por exemplo, evidentemente, participam da criação,
mas, na realidade, no ato de criação, apenas uma pessoa tem o
filme na cabeça: o diretor. Ninguém além dele, no set, sabe exatamente qual o filme está na cabeça do realizador. Essa questão do cinema como arte coletiva traz muitos problemas quando se faz cinema em contexto escolar, quando
crianças ou adolescentes fazem um filme. Porque se ninguém
toma as decisões, se ninguém tem as escolhas na cabeça, não
é um filme. Para que seja um filme, é preciso que alguém, ao
menos para cada plano, faça as escolhas. Uma pessoa fará
isso. As escolhas não podem ser coletivas. Senão faz-se um filme banal; faz-se um filme mediano. Se as escolhas são feitas
inteiramente por um grupo. Um grupo não pode ter ideias
um pouco fortes, um pouco pessoais.
Sendo assim, administrar isso é muito difícil em situações pedagógicas. A melhor solução é de confiar, em um determinado momento, todas as escolhas a um aluno. Mas para um plano, para uma cena. Depois, será outro aluno e depois outro
aluno. Pois é muito importante que em um determinado momento - mesmo em um filme restrito ao meio escolar - que
alguém decida as escolhas.
Pode também assistir à fala de Alain Bergala clicando aqui
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