Navegando pelo cinema
Alain Bergala - Escolha, disposição e ataque
Quando vemos como se faz um filme – no que diz respeito à duração - temos a impressão que todas as fases são diferentes; temos a impressão que escrever um roteiro não é de modo algum
igual a filmar, que não é a mesma coisa que montar ou mixar;
temos a impressão de que se recorre a gestos de criação totalmente diferentes. Minha hipótese é de que isto não é verdade.
Minha hipótese é que, qualquer que seja o momento, o ano de
fabricação de um filme, passa-se por três gestos de pensamento
que são os mesmos.
No cinema, escolhe-se. Por exemplo, se fazemos uma cena em
que duas pessoas estão na mesa de um café, nós vamos escolher
a cor da mesa, se há um buquê de flores, se é em um restaurante. O cineasta escolhe se ele quer rosas ou se ele quer flores brancas ou vermelhas. O primeiro gesto é escolher coisas, objetos, cores. O cineasta decide, por exemplo, se a atriz neste dia, vestirá
um vestido ou uma saia, uma roupa azul ou vermelha. Então,
essa é a questão da escolha. Em seguida, o segundo gesto é o de
dispor. Dispor quer dizer, vou voltar ao exemplo das duas pessoas que conversam em uma mesa de um café. Como o cineasta
escolhe colocá-las na cena? Ele vai colocá-las, por exemplo, assim, e eles se olharão deste modo? Ele vai colocá-las frente a
frente? E se eles estão frente a frente, ele colocará a mulher
aqui e o homem aqui, ou o contrário, a mulher aqui e o homem aqui. Então, isto quer dizer, que há um trabalho no espaço, de como se dispõem os elementos, os personagens ou
os atores. E o terceiro gesto é o ataque. O cineasta colocou
então a mulher aqui e o homem aqui, ele se coloca atrás da
mulher e tem o homem à frente? Ou ele se coloca atrás da
mulher e ele modifica? Ou ele se coloca de frente para os
dois e ele tem os dois ao mesmo tempo deste modo? Logo, o
gesto do ataque é múltiplo. Atacar é em primeiro lugar, escolher o eixo que se põe ponho a câmera, escolher a distância -
eu me coloco perto ou longe de um personagem ou dos dois?
Nesse sentido, gestos de disposição e de ataque não estão separados no tempo. Isto quer dizer que o cineasta chega ao
café e diz: Vamos filmar nesta mesa. Mas aqui onde ela está,
não me agrada, nós vamos mudá-la de lugar. Então, ele
muda a mesa de lugar. Depois ele diz: Você fica aqui, você
fica ali. E depois, ele tenta. Ele procura um ataque e com este
ataque, ele se dá conta que é preciso mudar a disposição. Isto
quer dizer que os gestos de atacar e de dispor ocorrem ao
mesmo tempo, isto é, o cineasta passa sem parar, no arranjo
espacial, de um gesto a outro. Não se faz, primeiramente, a
disposição e depois o ataque. Faz-se a disposição, tenta-se um
ataque, muda-se novamente a disposição, muda-se novamente o ataque, e uma hora, funciona. Uma hora se diz que está
bom, que é assim como eu quero, que funciona. Sendo assim, esses três gestos - se refletirmos bem - podem
ser encontrados na montagem. Na montagem também, é preciso escolher as tomadas. Se foram feitas seis tomadas, diz-se:
é a terceira que eu quero. Depois, se escolhe outros planos,
outras tomadas, e aí, começa-se a dizer: vamos colocar isto
primeiramente, em seguida, aquilo. Portanto, na montagem,
começa-se dispondo, escolhendo os planos, colocando-os em
uma determinada ordem e depois, é o ataque. Quando um
plano, por exemplo, é lento: Começa-se no movimento? Começa-se antes que o leitor fale? Começa-se enquanto ele está
falando? Isto quer dizer que encontramos os mesmos gestos
do ataque.
O mesmo ocorre desde a mixagem até o roteiro. De certo
modo, porque quando se escreve as cenas, elas são escritas
por inteiro. E depois, dizemos: “Ah, é demais”; “Vai ser chato”; “Eu vou cortar o início do diálogo.”; “Eu vou entrar na
situação de maneira mais direta”. Logo, minha hipótese, minha teoria é que apesar de concretamente parecer ser muito
diferente, na realidade, no cérebro, é a mesma coisa que funciona. São as mesmas atitudes, que fazem a cada momento, a
fabricação do filme.
Se desejar assistir à fala d Alain Bergala clique aqui
Isto não é bollywood
Houve uma época de ouro das séries de televisão "feitas na Índia". Terminou no ano passado, mas agora podemos aproveitar seus melhores resultados. Para ler o texto de Diego A. Manrique clique aqui
DOCUMENTÁRIO INTEGRAL - "Como hiper mulheres" , de Takumã Kuikuro, Carlos Fausto, Leonardo Sette, 2011
Numa comunidade dos indígenas Kuikuro, no Mato Grosso, uma anciã faz um último pedido para o seu companheiro - cantar no Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu. As mulheres se reúnem para ensaiar e preparar a festa, mas a cantora que guarda a memória das antigas músicas está doente. Um dos filmes indígenas mais premiados e conhecidos no Brasil, é uma viagem antropológica ao coração de um ritual feminino ancestral. A força das mulheres dentro da comunidade e seu esforço coletivo são filmados com sensibilidade e olhar privilegiado. Produção do Vídeo nas Aldeias. Para assistir ao documentário (1:19:00) clique no vídeo aqui
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