"Olhei-te nos olhos" - António Vilhena
Olhei-te nos olhos
estavam lá todas as paisagens
que cresceram no silêncio,
onde apenas sobrevivem os que
se entregam pelo coração.
Vi o que outros não viram
antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a púrpura nos lábios,
tinta de muitos poemas,
subtraída ao luar nesse imenso espelho de água,
onde se afogam as mágoas e as
tormentas.
Vi o Adamastor sulcando a
porta das especiarias,
temor de naus e caravelas
antes e depois de Calecute.
Vi o Minotauro lançando-se sobre o linho indefeso das Vestais.
Vi o que outros não viram
antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a beleza num castiçal
luminoso, cercado de sombras e de medos
sob a mão indizível do
mestre-de-cerimónias.
Onde se abriam rosas, havia
paredes brancas e barra azul
para perpetuares as manhãs e
o céu nos meus olhos.
Vi o que chega tarde e nunca
vai embora: a arte inquieta dos instantes,
dividindo os dias e as noites
numa cegueira cúmplice.
Vi o que outros não viram
antes e, talvez, os que hão-de vir.
António Vilhena
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