ENTREVISTA / MIA COUTO: As histórias que nos colocam na mesma página
O pensamento do nosso tempo sofre constantes ameaças e convive diretamente com inimigos íntimos. Para o biólogo e poeta moçambicano, Mia Couto, a “amputação da diversidade dos seres” é uma das maiores agressões possíveis neste cenário. Às vésperas de completar 60 anos e tendo conquistado homenagens como o Prémio Camões (2013) e Neustadt International Prize for Literature (2014), Couto questiona a ambição de codificar e compreender os fenômenos em sua totalidade e alerta para a possível redução da complexidade da vida e dos fenômenos. Sob o acirramento de conflitos de existência e frente ao desafio de criar pontes para a diversidade, o encantamento ao escutar histórias e reconstruí-las nas relações é o caminho apontado por Couto para vencer as fronteiras ideológicas que bloqueiam nossas circulações.
Publicado em mais de 22 países, o moçambicano, que se define “um polígamo de profissões”, nutre pelo Brasil uma constelação de sentimentos ligados à música, às vozes, à literatura e aos reencontros. Sem se levar demasiado a sério e observando o mundo sob um pseudônimo que revela sua admiração pelos felinos, Mia Couto soma mais de 30 livros publicados – no Brasil, a Companhia das Letras se prepara para lançar o seu 23º título – e a experiência de quem contempla a natureza e a vida em trabalhos de campo em Moçambique. Circulando por diversas regiões onde muitas vezes não há energia ou ligação telefônica, mantém-se, ainda assim, disponível. Sereno e suave, o filho de poeta nascido em Beira encontra na biologia o fascínio pela narrativa suprema da vida e, na literatura, celebra-a. Nesta conversa, fascínio e celebração carregam as mansas palavras desestabilizadoras de Couto.
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