segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

"No centro da cidade" - Al Berto

 




No centro da cidade

 

 

 




(… no centro da cidade, um grito. Nele morrerei,


escrevendo o que a vida me deixar. Eu sei que


cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a


dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são


uma sinalização em direção à morte (…)


Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me


na fímbria do mar. Medito o meu regresso.


Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha


pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à


geada. (… Bebo, fumo, nau tenho-me atento, absorto


- aqui sentado junto à janela fechada. Ouço-te


ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade


que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.


Recolho o mel, guardo a alegria e digo-te baixinho.


Apaga as estrelas, vem dormir comigo


no esplendor da noite do mundo que


nos foge.



 

 

 




Al Berto – Lunário (excerto)

 


(Portugal, 1948-1997)

 




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