sábado, 24 de dezembro de 2022

"A Voz da Planície" - Manuel Simões

 




A Voz da Planície

 

 

 



E eis que de súbito, com o vento de Maio,


veio até nós a memória de Eufémia, a gesta


da planície nos provérbios do trigo,


carroças e cavalos desventrados nas praças,


tal o furor oculto, o rosto das mulheres,


o seu luto de agravos e jornas tão iníquas,


o assombro do sol ao longo das herdades.


À frente Catarina com gesto decidido, as ruas


bloqueadas como um campo de armas.


E de repente os tiros, o disparar agudo


ou zumbido infindável, o arrepio da morte,


e a vertigem da queda nos olhos assombrados.


E de repente o sangue, como marca do crime,


Catarina por terra, o ventre contra o solo.


E de repente ainda, nas arestas do dia,


eis que na planície se manifesta o povo.


 

 

 



Manuel Simões




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