"A Voz da Planície" - Manuel Simões
A Voz da Planície
E eis que de súbito, com o vento de Maio,
veio até nós a memória de Eufémia, a gesta
da planície nos provérbios do trigo,
carroças e cavalos desventrados nas praças,
tal o furor oculto, o rosto das mulheres,
o seu luto de agravos e jornas tão iníquas,
o assombro do sol ao longo das herdades.
À frente Catarina com gesto decidido, as ruas
bloqueadas como um campo de armas.
E de repente os tiros, o disparar agudo
ou zumbido infindável, o arrepio da morte,
e a vertigem da queda nos olhos assombrados.
E de repente o sangue, como marca do crime,
Catarina por terra, o ventre contra o solo.
E de repente ainda, nas arestas do dia,
eis que na planície se manifesta o povo.
Manuel Simões
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