sexta-feira, 3 de setembro de 2021

"Serenata" - Eugénio de Andrade

 




Serenata

 




Venho ao teu encontro a procurar,


bondade, um céu de camponeses,


altas árvores onde o sol e a chuva


adormecem na mesma folha,




Não posso amar-te mais,


luz madura, espaço aberto.


Não posso dar-te mais do que te dou:


sangue, insónias, telegramas, dedos.




Aqui estou, fronte pura, rodeado


de sombra, de soluços, de perguntas.


Aceita esta ternura surda,


este jasmim aprisionado.




Nos meus lábios, melhor: no fogo,


talvez no pão, talvez na água,


para lá dos suplícios e do medo,


tu continuas: matinalmente.



 

 

Eugénio de Andrade

 




 

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