"O Olhar de Michelangelo" - A derradeira obra-prima de Antonioni (2004)
Na pág. 91-92 do livro Não contem com o fim do livro, conversas entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière (Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2010) aparece este pedaço de prosa de Jean-Claude Carrière que é, não só um belo elogio a um dos maiores gênios do cinema, Michelangelo Antonioni, mas também uma peça pungente, dolorosa, impregnada de um refinamento estético e filosófico arrebatador. Comovente, sob qualquer perspectiva, lírico em todas as suas dimensões!!! Um fragmento luminoso:
“Você viu O Olhar de Michelangelo, seu último curta-metragem? É um dos filmes mais lindos do mundo! Antonioni realizou em 2000 esse filme, que não dura mais de 15 minutos, sem uma palavra, onde ele dirige ele mesmo, pela única vez em sua vida. Ele entra na igreja de São Pedro dos Leões, em Roma, sozinho. Aproxima-se lentamente do túmulo de Júlio II, e o filme inteiro é um diálogo, sem uma palavra pronunciada, um vaivém de olhares entre Antonioni e o Moisés de Michelangelo. Tudo o que dizemos aqui, esse frenesi de aparecer e falar que marca nossa época, essa agitação sem objeto, é questionado pelo próprio silêncio e o olhar do cineasta. Ele veio dizer adeus. Não voltará mais e sabe disso. Veio fazer uma última visita, ele que está de partida, á obra-prima incompreensível, que restará. Como para interrogá-la uma última vez. Como para tentar desvendar um mistério ao qual as palavras não têm acesso. O olhar que Antonioni lança para ela, antes de sair, é patético”.
Para ler a crítica do filme feita por Ruy Gardnier clique aqui
Para ver o magistral filme de Antonioni (17,34 minutos), clique aqui
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