"Queria um país de Sol para te dar" - Carlos Loures
Queria
um país de Sol para te dar
Queria um país de Sol para te dar,
com
amantes e crianças nos jardins,
pássaros
livres a cantar nas árvores
e
a luz em liberdade pelas ruas
–
as coisas nos lugares onde as sonhámos
e
não nos sítios onde estão,
com
armas aperradas a guardá-las.
Um
país onde sulcássemos as límpidas manhãs
com
sorrisos claros vestindo as faces.
Um
país sem muros, sem medo
nem
carimbos nas cartas que escrevemos
e
ouvidos nas palavras que dizemos,
em
segredo.
Mas,
meu amor, nascemos cedo,
chegámos
ainda a tempo de viver
este
tempo que vivemos
com
lágrimas ocultas no sorriso,
a
raiva escondida nas carícias
e
uma secreta esperança aprisionada
nos
nossos corações aprisionados.
Viemos
ainda a tempo de sofrer
Este
tempo que sofremos
dia
a dia e que sulcamos,
com
os beijos vigiados,
com
os nossos segredos desvendados,
com
este amor amputado e prisioneiro
com
que amamos.
Meu
amor, não desertemos
Do
tempo e do país em que nascemos
(e
viver outro tempo dentro deste
ou
estar fora do país
dele
não saindo,
também
é desertar).
Já
que foi este o tempo que nos coube,
já
que foi este o país que nos deixaram,
temos
de conquistar o Sol que os ilumine,
roubando-o
ao silêncio e à mordaça
que
nos sufoca a voz – Não desertamos
–
o ódio, o medo, a morte
que
fujam, que desertem
se
o amor os insulta e ameaça.
–
Nós ficamos!
Com
ao companheiros
e
o amor dos companheiros,
o
amor será mais forte
do
que o ódio, do que o medo, do que a morte.
A
luz também se constrói com os nossos beijos,
com
as palavras clandestinas que escrevemos,
aquelas
que a opressão não vê nem ouve.
A
luz também se constrói com os nossos filhos,
eles
tingem de luz nova
as
sombras que com ódio vêm pôr
entre
as carícias, os beijos e as palavras.
Neles
se erguerá a luz para amanhã
e
a liberdade prisioneira nos nossos corações
inundará
de Sol as ruas,
meu
amor.
Carlos Loures
0 comentários:
Postar um comentário