"Ómega" - Agnès Agboton
Ómega
Temo que um dia nos afundemos
na tristeza de uma tarde chuvosa
e as nossas vidas, já húmidas
para sempre
de lágrimas quotidianas
e vencidas,
não encontrem jamais
as forças com que hoje
as levantamos
penosamente,
constantes na busca de um
novo amanhecer,
recriado a partir de
uma palavra,
quiçá um brilho.
— Sempre pouca coisa
nunca nada —
A tristeza de uma tarde chuvosa
que invade, por vezes, os
teus olhos;
que transborda, por vezes, da
tua boca
e da minha.
A tristeza de uma tarde chuvosa
que nos ata o coração
com penosos — entorpecentes —
laços de desesperança e
de sonho.
A tristeza de uma tarde chuvosa
na qual masturbamos os
nossos cérebros
e os nossos corações.
NÃO!
Levantemo-nos de novo…,
existem outros olhos à procura do
oculto sol.
Outras mãos tentam arrancar
as nuvens que o cobrem.
Noutros corações
o torpor venceu.
NÃO.
Estou cansada, amor…, e
tenho medo.
Agnès Agboton
(Benim, 1960 - )
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