"Depois da queda" - Zenir Campos Reis
Depois da queda
Depois da queda do muro de Berlim, todos os gatos são pardos.
Depois da queda do muro de Berlim, a qualidade
se converte em quantidade.
Depois da queda do muro de Berlim, cachorro
morto volta a rosnar.
Depois da queda do muro de Berlim, cachorro que
ladra também morde.
Depois da queda do muro de Berlim, “sim” e “não”
serão equivalentes e intercambiáveis, dependendo da correlação de forças.
Depois da queda do muro de Berlim, a
meteorologia passa à categoria de ciência social e as chamadas “ciências
sociais” ao ramo das belas-artes.
Depois da queda do muro de Berlim, fica abolida
a rosa-dos-ventos.
Depois da queda do muro de Berlim, o final
harmônico da fábula “o lobo e o cordeiro”, será posto em destaque.
Depois da queda do muro de Berlim, urge
desregulamentar e flexibilizar a lei da gravidade.
Depois da queda do muro de Berlim, as línguas e
as gramáticas se servirão apenas dos pronomes indispensáveis às novas relações:
eu e ele (o coiso) ou ela (a coisa).
Depois da queda do muro de Berlim, as crianças
serão patrimônio da culinária de todos os povos e países.
Depois da queda do muro de Berlim, “cesse tudo o
que a antiga musa canta”.
Depois da queda do muro de Berlim,
comercializemos a Muralha da China.
Em tempo: a notícia da queda do muro de Berlim
chegou a muitos lugares antes da notícia da queda da Bastilha.
Zenir Campos Reis
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