sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

"Escuridão formosa" - Gonzalo Rojas


 



Escuridão formosa

 

 

 




À noite toquei-te e senti-te


sem que minha mão fugisse para lá da minha mão


sem que o meu corpo fugisse, ou meus ouvidos:


de um modo quase humano


senti-te.



 

A pulsar, não sei se como sangue ou como nuvem errante,


em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,


escuridão que desce, cintilante, correste.



 

Correste por minha casa de madeira,


e abriste as janelas,


e senti pulsar a noite toda,


filha dos abismos, silenciosa,


guerreira tão terrível e tão bela,


que tudo quanto existe,


sem tua chama, não existiria para mim.



 

 

 

Gonzalo Rojas



 

(Chile, 1917-2011)

 

 




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