"Lançando perguntas ao vento" - Arménio Vieira
Lançando perguntas ao vento
Para o Tchalê Figueira
Quem somos?
Macacos falantes que
os
deuses rejeitaram?
Símios desnudos
destinados
a dominar os
congéneres pela violência
e por maliciosos sofismas
de raposa?
Animais viajando entre o peso do egoísmo
e
a leveza dos gestos?
Dúbio destino que nenhuma política,
revolucionários discursos carregados
d’altruísmo, utópicas promessas, a
vibrante oratória dos clérigos, tão-pouco
a
palavra dos poetas conseguiram mudar
Quem
és tu, Estrangeiro?
Fazendo
minha a voz
da
suplicante mulher,
interrogo:
de quem é a mão, que ora te
aponta as noites sem estrelas e ora as
brancas
luzes do alvor?
Porventura existe alguma escritura de
sapientes versos que possa responder a
tais perguntas?
Em
que praia, floresta ou deserto se
encontra o fio
com
que Teseu venceu
as
ínvias saídas do labirinto?
Enquanto deambulas,
lançando perguntas ao vento,
um gato vadio, imune aos venenos da alma,
aquece
ao sol da manhã, alheio aos avanços e
retrocessos
do mundo. Só lhe falta sorrir, a menos
que o sorriso dos gatos seja feito de cores
que escapam aos teus olhos, cansados por
inúteis leituras.
Arménio Vieira
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